“Se Meu Apartamento Falasse” é um filme do Jack Lemmon onde ele desenvolve uma técnica engenhosa de melhorar seu relacionamento com os chefes da companhia de seguros onde trabalha, emprestando seu apartamento para encontros românticos.
É um negócio de chave pra cá e chave pra lá na empresa, um entra e sai danado do apê, e a promoção que ele quer não vem nunca. Graças a algumas ameaças a promoção finalmente sai, junto com uma salinha com seu nome na porta.
Sentado na nova cadeira e se sentindo todo importante, o infeliz resolve regular a chave. Não dura dois minutos derrubam ele de volta pra posição medíocre de antes. Esse filme é da década de 1950 e lá já se sabia que networking se baseia numa relação profissional. Pode ter favores de lado a lado – aliás, é ótimo quando a relação permite que a gente peça um favor, e também possa fazer um favor pra outra pessoa.
Mas quando a relação não começa com negócios ela começa errado, e pra consertar depois é osso. O personagem de Jack Lemmon vai ser eternamente um fornecedor de motel grátis para aqueles executivos safados.
Outro dia um vendedor de mídia me contou que, na absurda dificuldade de conseguir reuniões iniciais com clientes novos, estava marcando almoços em restaurantes caros com esses novos clientes, que ele não conhecia e nunca tinha visitado. Perguntei sobre o resultado dessa idéia: “Bom, pelo menos estou com uma boa agenda de almoços”. Mas e resultado de negócios, de vendas? “Zero”, foi a resposta.
Era previsível. Relação de negócios produtiva começa com negócios. Começa com duas pessoas que tem um objetivo profissional comum. Vendedor- comprador, mentor-mentoreado, investidor-investido, chefe-colaborador, e inclusive colegas de escritório. O centro da conversa é um tema profissional, depois vem a camada pessoal.
Não estou dizendo que a gente não possa ter oportunidades profissionais apareçam de um encontro de outro tipo – a galera da pelada de domingo, os colegas da banda de rock, papais e mamães da escolinha das crianças ou o grupo de apoio da igreja. Eu conheço um corretor de imóveis que consegue vários clientes na reunião do AAA que ele frequenta.
Se a relação pessoal começou de forma legítima – são dois colegas no AAA – oferecer seus serviços profissionais pode até ser uma favor. Nenhum problema nisso. O que não dá certo é forçar uma relação pessoal para atingir algum objetivo profissional. É queimar o filme.
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