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    As águias têm um problema de networking


    Ando preocupado com a situação das águias.

    Navegando pela internet aprendi que esse majestoso animal não anda com galinha, não voa com pato, pardal ou urubu e precisa se afastar dos pombos, que, ao que parece, são uma influência nefasta. Águia só anda com águia. Não sei não, me parece que a ameaçadora ave de rapina tem problemas de networking.

    “Águia anda com águia” – quando ouvi essa expressão pela primeira vez me pareceu fazer sentido. Quando a ambição das duas pessoas é muito diferente de fato a relação não frutifica. Um quer aprender, quer conquistar, quer frequentar outros lugares e conhecer novas pessoas, enquanto o outro está contente com o que tem, gosta do que faz, não quer sair de onde mora, e vai continuar jogando sinuca com a turma do bairro… não precisa ser uma coruja de sabedoria pra prever que a relação não vai longe.

    Mas tinha alguma coisa me incomodando nessa história de águia pra cá e águia pra lá. Reuni um grupo para debater e eles foram elencando um a um os problemas dessa visão.

    1. Águia que só anda com águia não tem experiência de diversidade. Na relação com o diferente a gente amplia os horizontes, recebe críticas, põe à prova nossas verdades e, no final das contas, cresce muito. O pato nasceu com os dedos colados pra não colocar aliança – vai dizer que ele não tem o que ensinar? Quem só anda dentro da sua bolha – no caso, o grupelho das aves de rapina – acaba vivendo num horizonte pequeno, e que vai se fechando cada vez mais.
    • Eu ando com você porque imagino que você está onde eu quero chegar, planando sobre os cumes mais elevados da sociedade. E você, provavelmente, imagina a mesma coisa, se não, não andaria comigo. Mas a expressão não fala nada sobre como chegar lá. De onde vêm as águias? Tem que nascer águia? Se, por azar, eu não nasci águia, como faço pra virar águia? Parece que o processo não importa, todo o corre, todo o perrengue, todo o medo e esforço que se faz pra conseguir o que se quer é resumido a uma condição fixa, paralisada – ou se é uma águia, ou não se é.
    • A caminhada até chegar a ser águia não importa – eu já “sou” uma águia, uma banana pra vocês! Então está igualado quem chegou lá criando, investindo, acreditando, ralando, mas também quem conquistou coisas de maneira ilegal, antiética ou herdou uma fortuna da titia. Eu já “sou” águia, os que falarem mal de mim daqui pra frente é inveja.
    • Todo mundo se acha águia. Talvez um ou outro com a autoestima meio machucada se identifique com a galinha – que cuida maternalmente dos pintinhos, e ser mãe é a coisa mais linda do mundo – ou com o pardal que, sei lá, é fofo. Mas está bem claro que no caso da minha ambição e da sua serem diferentes, a minha é melhor. Seja lá o que for que eu almejo é mais chique, mais valioso, mais útil, mais raro – melhor. Afinal de contas, eu sou a águia. Não passa na cabeça dessas pessoas que a ambição do outro pode ser tão válida, tão digna ou tenha um potencial de impacto tão grande quanto a sua própria. Daí para a discriminação e o discurso de ódio é um rápido bater de asas.
    • Águia seria aquela pessoa que abre todas as portas, tem todas as informações, toma todas as decisões. Só que na vida real essa espécie está extinta. Já passou a época em que as instituições tinham o “caneta”, que tomava todas as decisões enquanto os outros simplesmente obedeciam e executavam. Hoje, mesmo decisões simples são colegiadas, e quem fica com um binóculo tentando encontrar o águia não percebeu que as estruturas de poder mudaram. Para conseguir o que a gente quer temos que navegar dentro das organizações e entender como a tomada de decisão funciona, quais são os atores envolvidos e qual a “agenda” de cada um.
    • Tem muita águia aí que é um pavão enrustido.    

    Este texto é resultado de discussões que aconteceram no curso “Networking 2.0”. Contribuíram Andre Galhardo, Giulia Longhi, Luciano Vaz, Ana Paula Okamura, Alessandra Orrico, Ricardo Castelo, Thiago Tane, Mali Vicentis

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